20 outubro 2011

Melancholia (Lars Von Trier) - Quando o fim do Mundo está dentro de cada Um


“Come Armageddom – come”, diz a letra de Everyday is like Sunday do cantor ingles Morrissey. E esse poderia ser o tema do novo longa de Lars Von Trier, “Melancholia”. Com uma carreira marcada por polêmicas – a mais recente, declarações anti-semitas no Festival de Cannes -, Von Trier insere em suas produções o pensamento caótico do Homem contemporâneo. Por si só, a abertura de Melacholia desbrava toda a angústia do ser humano utilizando o contraponto de cenas de aflição e o prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner.
Assim como na história de Tristão e Isolda, o início de Melanchoia apresenta a vida feliz da burguesia que logo é desmantelada por pessoas reais que não saíram de dentro de contos de fada e, ainda, a eminência do choque do planeta Melancholia com a Terra. Ironicamente, é claro, Lars diz que Melancholia tem um “final feliz”, mesmo que seja sobre o fim do mundo. De alguma forma, ele tem razão. Este é o seu filme menos cruel com os personagens. Apesar de conflitos existentes, ninguém faz mal a ninguém. Além disto, visto por outra ótica, o final feliz também está no fim da existência humana, seres estes que tanto mal causam – como é demonstrado por todos os seus demais filmes. Em Melancholia, como sempre, Von Trier trata de tantos assuntos que as interpretações podem ser variadas.
Na primeira parte, chamada "Justine" - que funciona como um prólogo, uma introdução - uma estranha estrela vermelha chama a atenção de Justine ( Kirsten Dunst, papel que lhe rendeu até o prêmio de Melhor Atriz), uma noiva nem um pouco feliz com o casamento. A estrela é Melancholia. A estrela da morte, única certeza com a qual conseguimos conviver. Mas, será que se nos dessem uma data e horário para este acontecimento permaneceríamos, de certa forma, pacíficos? E se tivéssemos o dom de prevê-lo?
Este capítulo traz a luxuosa e imponente cerimônia de casamento de Justine com Michael. Porém, ao contrário do esperado, a noiva não demonstra qualquer vontade de casar-se. Além disto, sua mãe ao discursar demonstra todo o seu descontentamento, suas desilusões e descrença no matrimônio. Uma interpretação possível para isto pode ser tirada da biografia do próprio diretor - encontrada em seu site, quando ele diz que "passei por uma infância nada convencional, tendo que decidir desde muito jovem o que queria fazer. Para meus pais, principalmente minha mãe, tudo era permitido menos religiosidade e sentimentalismo. Com isso me tornei uma pessoa regrada, ansiosa, obsessiva por controle, fóbica e hipocondríaca".
No segundo capítulo, o filme dedica-se a Claire (Charlotte Gainsbourg), a irmã controladora, desesperada e apavorada de Justine. Melancholia é um planeta que está em rota de colisão com a Terra, anunciando o fim da humanidade. Alguns optam por ignorar e seguir suas vidas, outros sabem ou sentem. As irmãs Justine e Claire terão de enfrentar e, até mesmo, aceitar o inevitável. Para Justine, o fim parece aceito, repetindo sempre: "eu sei das coisas". Além do que, para ela, a vida humana é marcada essencialmente pela maldade. Com o fim de tudo, valores como dinheiro, amor, família, trabalho, casamento e orgulho estarão em crise.


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