24 outubro 2011

"Quem é essa voz? Que horas você chega?"

Nesta quinta-feira (27/10) inicia a venda dos ingressos para o Show do Chico Buarque que ocorrerá  no Teatro Guaíra - Guairão nos dias 15, 16 e 17 de dezembro (quinta, sexta e sábado) as 21 horas. A venda inciará ao meio-dia nas bilheterias e as 14h pelo site do teatro Guaíra.

Os ingressos custam R$290 (platéia), R$250 (1° balcão) e R$150 (2° balcão). Meia entrada para estudantes de maiores de 60 anos.

Calvin and Hobbes

Devido à falta de tempo e à necessidade de estudar. Hoje o post será apenas tirinhas de Calvin and Hobbes (Calvin e Haroldo no Brasil) sobre o estudo, leitura e/ou escrita.




 * Para visualizar melhor as tirinhas, clique com o botão esquerdo do mouse. 

22 outubro 2011

Porque hoje é Sábado.

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.


Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada

Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo

Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.

Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo

E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.


20 outubro 2011

Melancholia (Lars Von Trier) - Quando o fim do Mundo está dentro de cada Um


“Come Armageddom – come”, diz a letra de Everyday is like Sunday do cantor ingles Morrissey. E esse poderia ser o tema do novo longa de Lars Von Trier, “Melancholia”. Com uma carreira marcada por polêmicas – a mais recente, declarações anti-semitas no Festival de Cannes -, Von Trier insere em suas produções o pensamento caótico do Homem contemporâneo. Por si só, a abertura de Melacholia desbrava toda a angústia do ser humano utilizando o contraponto de cenas de aflição e o prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner.
Assim como na história de Tristão e Isolda, o início de Melanchoia apresenta a vida feliz da burguesia que logo é desmantelada por pessoas reais que não saíram de dentro de contos de fada e, ainda, a eminência do choque do planeta Melancholia com a Terra. Ironicamente, é claro, Lars diz que Melancholia tem um “final feliz”, mesmo que seja sobre o fim do mundo. De alguma forma, ele tem razão. Este é o seu filme menos cruel com os personagens. Apesar de conflitos existentes, ninguém faz mal a ninguém. Além disto, visto por outra ótica, o final feliz também está no fim da existência humana, seres estes que tanto mal causam – como é demonstrado por todos os seus demais filmes. Em Melancholia, como sempre, Von Trier trata de tantos assuntos que as interpretações podem ser variadas.
Na primeira parte, chamada "Justine" - que funciona como um prólogo, uma introdução - uma estranha estrela vermelha chama a atenção de Justine ( Kirsten Dunst, papel que lhe rendeu até o prêmio de Melhor Atriz), uma noiva nem um pouco feliz com o casamento. A estrela é Melancholia. A estrela da morte, única certeza com a qual conseguimos conviver. Mas, será que se nos dessem uma data e horário para este acontecimento permaneceríamos, de certa forma, pacíficos? E se tivéssemos o dom de prevê-lo?
Este capítulo traz a luxuosa e imponente cerimônia de casamento de Justine com Michael. Porém, ao contrário do esperado, a noiva não demonstra qualquer vontade de casar-se. Além disto, sua mãe ao discursar demonstra todo o seu descontentamento, suas desilusões e descrença no matrimônio. Uma interpretação possível para isto pode ser tirada da biografia do próprio diretor - encontrada em seu site, quando ele diz que "passei por uma infância nada convencional, tendo que decidir desde muito jovem o que queria fazer. Para meus pais, principalmente minha mãe, tudo era permitido menos religiosidade e sentimentalismo. Com isso me tornei uma pessoa regrada, ansiosa, obsessiva por controle, fóbica e hipocondríaca".
No segundo capítulo, o filme dedica-se a Claire (Charlotte Gainsbourg), a irmã controladora, desesperada e apavorada de Justine. Melancholia é um planeta que está em rota de colisão com a Terra, anunciando o fim da humanidade. Alguns optam por ignorar e seguir suas vidas, outros sabem ou sentem. As irmãs Justine e Claire terão de enfrentar e, até mesmo, aceitar o inevitável. Para Justine, o fim parece aceito, repetindo sempre: "eu sei das coisas". Além do que, para ela, a vida humana é marcada essencialmente pela maldade. Com o fim de tudo, valores como dinheiro, amor, família, trabalho, casamento e orgulho estarão em crise.


Obras-primas | - Flaubert: o homem que descobriu o real



Esta sessão será destinada a artigos ou mera citações que versem sobre "obras-primas" dos mais diversos gêneros. Não haverá uma organização ou ordem de publicação. As publicações virão através de um "fluxo de consciência".



Gustave Flaubert
por Eugène Giraud
(1806 – 1881)
Flaubert: "Eu sou Madame Bovary"
     Gustave Flaubert, mais do que qualquer outro escritor, fez da literatura sua vida. Dedicando-se completamente a aperfeiçoar sua arte, obteve uma maravilhosa harmonia entre a ficção e a realidade. Flaubert conseguiu levar o romance realista à perfeição.
      Nasceu em 1821, em Rouen na França. Começou a estudar Direito em Paris, mas seu destino foi alterado por um amor não correspondido, o qual fê-lo desesperar da vida. Morreu em 1880, com 58 anos de idade. Jean-Paul Sartre lhe dedicou uma biografia colossal - quatro mil páginas de análise estético-existencial. Para quem gostaria de conhecer mais deste autor, esta dada a dica. Porém, único fato que julgo dígno de ser lembrado: sua obra é sua verdadeira biografia.

Madame Bovary
      O romance é resulto de 5 anos de trabalho e é uma dura depreciação dos valores burgueses. Tornou-se uma obra popular, bateu todos os recordes, saiu em inúmeras edições e foi  traduzida para as mais diversas línguas. Todavia, essa obra é ao mesmo tempo uma obra-prima da arte literária. Não se pode esquecer que, no início deste século, o Women's Lib situa em Emma Bovary (personagem principal do romance) o início da atual consciência feminista. 
       Gustave Flaubert foi acusado pelo governo francês de ter escrito uma história "execrável sob o ponto de vista moral". Para entender tal acusação, é importante saber que a obra foi publicada no tempo do Segundo Império, de Napoleão III, época de corrupção e deboches desenfreados de aventureiros, época de amordaçamento da imprensa por uma censura moralista, muito ao agrado de uma burguesia hipócrita.
        Uma revista liberal, Revue de Paris, aceitou publicar o romance, capítulo por capítulo. Leitores indignados enviavam cartas protestando contra a "imoralidade do tema" e "a calúnia dos costumes de província". A revista, amedrontada, cortou algumas cenas e abreviou outras, chegando até a suspender a publicação. Mas não foi suficiente, o autor e os editores foram acusados de crime contra o pudor, os bons costumes e a religião, aparecendo como réus perante a 6ª Vara Criminal de Paris.
          O discurso da acusação foi de uma hipocrisia revoltante: a publicação de um livro tão obsceno seria capaz de sacudir os fundamentos morais da família francesa e chegar a minar a estabilidade e tranqüilidade política do país. O defensor Sénard apresentou Flaubert como escritor cristão, de moralidade rigorosa, e a obra como história da justa punição de uma mulher debochada. Felizmente, foram absolvidos.
   Madame Bovary é um romance de amor, no qual uma burguesa provinciana - Emma Bovary -, com a imaginação exaltada pelas leituras românticas, busca uma vida mais intensa que aquela que o ambiente com o marido - médico, Charles Bovary - pode lhe dar. Por tal ambição, passa por infelizes e embriagantes aventuras, desembocando em um desespero que a leva ao suicídio. É uma história trivial, um pouco sórdida, pois houve sempre e sempre haverá Emmas pelo mundo. 
     O verdadeiro criminoso na obra de Flaubert é a sociedade, que corrompe tudo. A obra ultrapassa seu enredo, o romantismo feminino e a estupidez humana. Flaubert se opõe à sociedade! Este é o verdadeiro tema do livro.
       Com isto, foi até criado o termo bovarismo, que é o hábito da pessoa de ver-se no espelho mais bonita, mais rica e mais inteligente do que realmente é. Ao ser questionado sobre quem é Madame Bovary, Gustave Flaubert respondeu "Madame Bovary sou eu mesmo".

Trechos da Obra
A real intenção deste post era apresentar uma seleção de trechos da obra, escolhidos por mim e de forma nada imparcial.

"Ia ruminando a sua felicidade, como quem fica ainda mastigando, depois do jantar, o gosto das trufas que está digerindo."

"...a paixão de Charles já nada tinha excessiva. Suas expansões haviam-se tornado regulares; beijava-a em horas certas. Era um hábito como os outros e como que uma sobremesa prevista com antecipação, após a monotonia do jantar."

"As felicidades futuras, como as praias dos trópicos, projetam, na imensidade que as precede, as suas molezas nativas, brisas perfumadas; e nós nos entorpecemos na sua languidez, sem mesmo nos importarmos com o horizonte que não avistamos ainda."

"Tantas vezes já a ouvira dizer tais coisas, que não lhe eram mais novidade. Emma parecia-se às demais amantes; e o encanto da novidade, caindo aos poucos como um vestido, exibia a eterna monotonia da paixão, sempre da mesma forma e da mesma linguagem."

"Ela sentia-se tão desgostosa dele, como fatigado dela ele estava. Emma reencontrava no adultério toda a insipidez do lar conjugal."

"Obedecendo à ideia de que uma mulher deve sempre escrever ao amante. Mas, ao escrever, tinha no espírito outro homem, um fantasma composto das suas mais ardentes lembranças, das suas leituras mais belas, das suas mais fortes ansiedades; e afinal este se tornava tão verdadeiro e acessível."

19 outubro 2011

"Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar"

        Nada como começar o mês com uma notícia tão nobre e empolgante, a qual me despertou um grande sorriso: Chico Buarque em Curitiba!          
             Desde seu, agora penúltimo, álbum "Cariocas" em 2006, Chico não subia mais aos palcos. Em seu site oficial, Chico fala sobre sua turnê: "Eu não queria pensar em fazer turnê enquanto estava gravando o disco. Já era um perrengue muito grande e ficar comprometido com datas e tal não me apetecia. Mas depois fiquei com vontade de cantar ao vivo as músicas do disco. E uma coisa puxa a outra".

       A turnê terá sua estréia em Belo Horizonte no dia 5 e 8 de novembro, chegando a Curitiba em 15 de dezembro. O show será no Teatro Guaíra, ainda sem informações sobre valores. Em Belo Horizonte, a Plateia I custará R$290; Plateia II R$270,00 e R$240,00 no superior (todas com suas respectivas "meia" entradas).
         Em seu site oficial, Chico continua: "o show vai ser bastante fiel ao disco, vai ser um hepteto de outros carnavais, e como eu estava dizendo vão ser musicas já escolhidas, um repertório que abrange quase toda a minha carreira." Humildemente diz que no Bis, "se saírem bis", cantará sua primeira música, de 1965, Som de Carnaval. Além disto, será composto por canções que nunca foram cantadas em shows: para minha felicidade Geni e Zepilim. Será um repertório de 28 músicas, ao redor de 10 canções que compõe o novo disco (Chico), somadas a canções de todas as fases de sua carreira.
       O cenário será composto por três grandes reproduções sobre tecido: um desenho de Oscar Niemeyer ("A mulher Nua") e duas pinturas de Cândido Portinari ("O bloco Carnavalesco" e "O Circo"), além de uma escultura móvel de uma Fita de Möbius. Os figurinos serão inspirados nas cores de "O Circo".
          A banda será formada por João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclado e vocais), Wilson das Neves (bateria), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Bernardes (flauta e sopros) além de ser capitaneada pelo maestro, arranjador e violinista Luiz Claudio Ramos.

"Ai que vida boa, ô lerê,
Ai que vida boa, ô lará,
O estandarte do sanatório geral... vai passar"



-Post em homenagem a meus amigos que alimentam cada vez mais, ao seu jeito, a minha sede de vida e o amor por Chico: Dayane Hass, Karin Pruner e meu namorado Jonatan Rafael. Muito grata!


18 outubro 2011

Boas Vindas?

Qual a maneira correta de se usar um blog?
A quem buscamos agradar?
Qual seu objetivo?

Após pensar e repensar uma maneira de iniciar este blog, decidi começar pelo começo (óbvio!), criando-o. O resto irá fluindo, tal qual a mente de um artista. Porém, penso ser imprescindível esclarecer alguns pontos.

Primeiramente, este blog não possui fins lucrativos (HAHA sério?) e muito menos almeja ter. Em outras palavras, não busco audiência e uma infinidade de acessos diários. Gosto de chamá-lo de uma prática esquizofrênica e egoística, meu único objeto e fim é Prazer. Escrevo para mim, não para que leiam. Se seu interesse venha a ser leitura, tentarei disponibilizar em uma barra do blog algumas obras em PDF, bem como links de revistas recheadas de artigos científicos - claro, somente as que me interessam -, aí sim encontrará leitura de qualidade.

Sabendo disto, julgo desnecessário dissertar sobre o foco do blog ou os temas dos quais tratarei - isto nem eu sei. Mas, por uma questão formal minha e, principalmente, para uma análise futura, pretendo que o blog verse sobre temas como Direito (já demonstrado no 1° post), Literatura, Cultura, Filosofia, Ciência Política e Atualidades (somente aquelas que possam estar correlacionadas aos temas anteriores). Porém, como já disse, o seu rumo é incerto, como a mente humana.

De todo modo, bem vindo (ou não) ao meu universo particular.
(Acabo de me tornar uma blogueira, uau!).

Fábrica de Bacharéis

Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira - mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum.[1]
Para se pensar o Direito brasileiro é preciso, antes de tudo, analisar as mudanças e nuances pelas quais o ensino jurídico passou no decorrer dos anos.
Sua origem está inserida em um período de efervescência de movimentos sociais,  que possuíam como moto o individualismo político e o liberalismo econômico, culminando na independência do país. Neste contexto o incipiente Estado Brasileiro busca nos cursos de Direito uma solução capaz de criar uma nova imagem para o povo brasileiro mirar-se. Tencionava-se a missão de se criar novos modelos e identidades para um país que, apesar de independente, dependia de Universidades Européias - principalmente a de Coimbra - e, sobretudo, mantinha em seu comando um monarca português. Portanto, o intuito primário era a formação de uma elite política e administrativa nacional, subsistindo a tradicional burocracia Joanina.
Com a lei de 11 de agosto de 1827, instituíram-se nas cidades de São Paulo e de Olinda os cursos de Ciências Jurídica e Sociais no Brasil. Um dos desdobramentos oriundos destas implementações foram as revistas acadêmicas que, observando no periodismo um meio eficaz, passaram a serem utilizadas como forma de divulgação de notícias do âmbito apenas institucional e de debates críticos.
                                    
O estudo da vida extracurricular revelou a existência de uma infinidade de periódicos, na maior parte porta-vozes de institutos e associações científicos, filosóficos, literários e etc., comprometidos com distintas orientações político-partidárias e que expressam algo inusitado: o periodismo proporcionou o espaço necessário à formação profissional do bacharel, e nessa condição, fez as “honras da casa” ao substituir as salas de aula nas suas tradicionais atribuições de ensinar. De fato, foi através do jornalismo que o acadêmico/bacharel aprendeu a complexa arte da política.[2]

Desde o princípio, entretanto, os cursos nasceram pelos ditames da necessidade de se formar uma elite política coesa e disciplinada, conforme os fundamentos ideológicos do Estado. Não houve, por isso, relevância à preocupação de formar juristas que produzissem a ideologia jurídico-política do Estado Nacional emergente. Destarte, pode-se dizer que a proclamação da República não foi fruto de ideias republicanas prevalecentes, mas tão somente conseqüência da queda da monarquia.
Em meio a estas mudanças, em 1891 promulga-se a primeira constituição da Republica. Esta, por seu turno, abriu portas para que os cafeicultores assumissem o controle das instituições político nacionais e a faculdade de Direito transformou-se em um dos grandes legitimadores deste novo jogo político. Neste contexto encontra-se a gênese do processo de profissionalização da política na sociedade brasileira.
Na década de 20, a indagação sobre o causador e responsável pela característica de o país ser retrógrado deixa de ser fatores étnicos ou racionais para dar espaço ao analfabetismo. A educação surge como solução, sendo futuramente, um dispositivo da constituição de 1934, a Social Democrata.
Todavia, apesar de a educação ganhar mais espaço, os estudantes de Direito da década de 30 adquirem um senso prático, perdem a espontaneidade e a originalidade de outrora. Os bacharéis passam a preocupar-se mais com o cargo a ocupar ou a função a exercer, que com movimentos literários ou filosóficos. O direito perde sua função missionária. Surge, em cenário pós-guerra, o Direito como profissão. Desse modo, em 1927 - centenário da criação dos cursos de Direito no Brasil - a República Velha aproxima de seu encerramento com um saldo de 14 cursos de Direito[3]. Neste período, encontra-se o embrião desta “Fábrica de Bacharéis”.
Não obstante todos os esforços e tentativas de mudanças nas quais o ensino jurídico  alcançou, pouco foram as alterações substanciais no decorrer de todos estes anos. Venâncio Filho[4], nos 150 anos de ensino jurídico no Brasil, conclui sua obra - uma análise histórica dos cursos de Direito - afirmando que este curso “ainda se encontra à procura de seus caminhos”. 50 anos mais tarde, o Brasil, em 2010, possuiu um saldo de 1240 cursos de Direito[5]. Operários, bem vindos à fábrica!




[1] LOBATO, Monteiro. Mundo da Lua. São Paulo: Globo, 2008.
[2] ADORNO, Sérgio. Os Aprendizes do Poder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 238.
[3] SIQUEIRA, Márcia Delladone. Faculdade de Direito: 1912-2000. Curitiba: UFPR, 2000.
[4] VENÂNCIO FILHO, Alberto. Das Arcadas ao Bacharelismo. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1982. p. 318.
[5] CNJ – Conselho Nacional de Justiça, 2010.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das Raças: Cientístas, instituições e questão racial no Brasil. 3 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.